Justificativa

O sistema educacional vigente ainda consiste de um sistema densamente atrelado a estrutura deficitária de ensino de séculos anteriores e pouco acompanhou as transformações que se estabeleceram com o advento das novas tecnologias, em especial da informática. Papert (em a Máquina das Crianças) assinala que o sistema educacional de fato mudou, “mas não de uma forma que tenha alterado substancialmente sua natureza”. Mais do que simplesmente modificar e elaborar novas teorias da educação, é essencial que sejam também mudadas nossas percepções acerca do processo educacional auxiliado pelas novas tecnologias criando-se assim uma nova sensibilidade às transformações que nos advêm.

No Brasil, as modificações vêm tornando-se mais visíveis na última década. Com a informatização das escolas públicas brasileiras impõe-se um novo desafio, que será descrito nos pró- ximos parágrafos, através de vários questionamentos sobre os seguintes agentes: o profissional que se pretende formar, os ambientes escolares, o professor especialista e os softwares educativos utilizados.

Com relação ao profissional, questiona-se de que forma utilizar esse instrumento em prol da formação de recursos humanos aptos para enfrentar o mercado de trabalho do novo milênio? Simplesmente dando cursos de manuseio desse instrumento, como se faz tradicionalmente? Ou utilizando o seu enorme potencial em prol de uma formação de um profissional autônomo, crítico, reflexivo, habilitado a assimilar avanços tecnológicos sem muita dificuldade na acomodação (após uma desequilibração muito natural)?

Estarão os ambientes escolares preparados para receber esses equipamentos, fazendo um uso educacional adequado de seu potencial? Ou é apenas uma imposição da sociedade e do mercado de trabalho?

Como situar nesta questão o professor especialista? Este deve continuar na sala de aula tradicional, sem saber como transformar essa nova ferramenta de (in)formação em atividade de ensino e aprendizagem? Ou este deve procurar realizar cursos de didática que o ajude a implantar novas estratégias de ensino utilizando essa ferramenta? Estaria apto a escolher um software educativo que seja adequado às características do curso e necessidades dos alunos? Ainda hoje é raro encontrarmos o computador em uma escola fazendo parte do planejamento do professor especialista, sendo utilizado por ele como uma ferramenta a mais – como já são o livro didático, os para-didáticos, ou mesmo o giz – na sua tentativa de conciliar o ensino e a aprendizagem.

Como deve ser a escolha dos softwares para essas atividades?

Tradicionalmente, são feitas por catálogos, pela indicação de alguém ou porque a escola concorrente também os utiliza. Geralmente a escolha não é por critérios pedagógicos. Nada de resposta às perguntas bem simples, como: O que esse software se propõe a realizar? O conteúdo que é trabalhado atinge o seu objetivo? Que atividade o professor pode propor aos alunos? O software respeita princípios ergonômicos, considerando não somente a melhor cor para apresentar uma informação, mas também verificando se o nível de desenvolvimento cognitivo para trabalhar esse software está adequado aos alunos?

TeleMeios

É nesse quadro problematizado que surge uma das motivações da continuação deste nosso projeto: estudo de possibilidades da informática educativa no trabalho pedagógico através do emprego de recursos telemáticos e de aplicativos multimídia, utilizando softwares livres e gratuitos, de forma a apoiar iniciativas de formação continuada de professores.

Nossa perspectiva é a de contribuir efetivamente para o avanço do conhecimento neste campo, disponibilizando informações sobre as aplicações pedagógicas de tal tecnologia educativa, evidenciando abordagens inovadoras no que diz respeito à concepção de programas de formação, ao planejamento de estratégias de intervenção para a sala de aula virtual, ao desenvolvimento de material didático e também indicando princípios norteadores para a formação inicial e continuada de professores para manuseio da informática educativa.

Cabe então, citar duas iniciativas no âmbito estadual que estão sendo desenvolvidas e que estimulam e criam condições para aplicações em ambientes de educação à distância.

Em primeiro lugar, citamos o projeto “Infovias da informação” da Secretaria da Ciência e Tecnologia do Ceará -SECITECE-, que interligará os 40 Núcleos de Tecnologia Educacional, os 13 Centro de Vocação Tecnológica -CVT- e os 14 Centro Estadual de Formação Tecnológica – CENTEC-, por uma malha de fibra ótica, que proporcionarão a implantação de educação a distância, utilizando nas novas tecnologias de informação a distância, em particular aquelas suportadas pela rede Internet.

Além disso, a UFC está habilitada a oferecer cursos a distância em áreas de licenciaturas, bem como é uma das credenciada no programa UAB – Universidade Aberta do Brasil do MEC (informações disponíveis em www.uab.mec.gov.br).

Ensino de Matemática mediado pelo computador: experiências

O computador no ensino de Matemática integra uma tendência de disseminação do uso de novas tecnologias de comunicação e informação para o desenvolvimento de novas ferramentas de trabalho educacionais. No Brasil, a chamada Informática Educativa tornou-se um movimento que se opõe à escola tradicional e disciplinar. Esta escola caracteriza-se pelo seu alicerce material: o papel e a caneta, o giz e o quadro-negro. As autoridades políticas, professores e pesquisadores têm considerado o uso de novas tecnologias na educação um movimento necessário na formação dos alunos, já que a tendência do mercado de trabalho é a exigência do uso de tecnologias computacionais.

Por outro lado, o que vemos é que o processo de implementação dos laboratórios de informática nas escolas ocorre de modo mais intenso que a expectativa dos professores. Muitos professores acreditavam que os computadores nunca chegariam a sua escola. No Ceará, Nordeste do Brasil, entretanto, locais como Quixadá e Tauá, distantes das regiões mais desenvolvidas no interior do estado, possuem LIE desde 1999. Não se trata do caso que os computadores estejam chegando de forma realmente intensa nas escolas, mas aos poucos, novos LIE são implementados em várias localidades brasileiras. O que tem acontecido, entretanto, é que, à medida que os LIE são implantados, surgem novos desafios para o professor. A questão deixa de ser: “quando chegarão os computadores?” para “como usar o computador? E como fazer para ensinar conteú- dos como física, química, história, geografia, língua portuguesa e matemática?”.

Em vista destas novas expectativas de uso do computador, o professor passa a explorar conhecimentos básicos sobre edição de textos, planilha de cálculo, edição gráfica. Sabemos que são conhecimentos de grande importância para o uso do computador, mas não são adequados nem apropriados, como seria a informática educativa que se espera que o professor utilize em seu magistério. Em muitos casos, o professor passa a usar portfólios de programas que apresentam propostas de trabalho específicas ao ensino desta ou daquela disciplina. Neste trabalho discutiremos questões que surgem quando o professor utiliza programas voltados para o ensino de matemática, como o Cabri Géomètre II, GeoNext, GeoGebra, Dr.Geo, Compasses and Ruler entre tantos outros software educativos (destes, a exceção do primeiro, todos são softwares livres).

O paradoxo entre a pesquisa científica e o ensino de biologia

O progresso observado nas últimas décadas em biologia, demonstrando a universalidade dos princípios básicos de estrutura e funcionamento dos seres vivos e decifrando o código genético, promoveu um avanço vertiginoso de conhecimentos e uma convergência das disciplinas bioló- gicas que, durante o século XIX e início do século XX, tinham conhecido uma lenta acumulação de informações e diversificação por meio da multiplicação das disciplinas.

Entretanto, é público e notório que, mesmo nas melhores possibilidades, a escola vive à margem do progresso científico e tecnológico, especialmente na área biológica. Sabemos que não é suficiente a existência de computadores nas escolas. É essencial que os mesmos sejam usados em toda sua potencialidade. A área biológica é quase que totalmente desprovida de boas ferramentas de ensino em sala-de-aula. São poucos os softwares gratuitos, específicos para o ensino dos conteúdos de biologia. Paradoxalmente, por sua vez são pouco estudados e desconhecidos dos professores e alunos.

Nossa hipótese de trabalho refere-se ao paradigma do ensino de sistemática e taxonomia(classificação dos seres vivos) no ensino médio. Conforme a discussão apresentada abaixo, a bioinformática (uso de softwares computacionais para pesquisa biológica) é uma nova disciplina que vem tomando conta dos meios universitários. Porque não utilizar estas ferramentas, adaptando-as para o ensino de biologia? Porque não utilizar metodologias avançadas de análise de agrupamentos para ensinar os princípios norteadores da sistemática?

Neste contexto do ensino de biologia auxiliado pelo computador, o professor é um agente e o computador uma ferramenta. Consideramos que não basta somente o viés tecnológico para garantir aprendizado. Propomos que, em concomitância à busca, produção e avaliação dos softwares educativos de biologia, o estabelecimento de uma didática especial e específica para seu uso. O uso da Engenharia Didática e a Seqüência Fedathi para o ensino de biologia assistido pelo computador necessita ser estudado e caracterizado para o ensino de biologia. Assim, buscaremos mostrar, em nossa proposta e em nossa discussão, que seria possível não só obter uma ferramenta inovadora para o ensino de conteúdos de biologia como indicar caminhos que possam ajudar o professor a obter bons resultados com ela.

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1Sistemática é o estudo taxonômico baseado em relações evolutivas entre espécies. A taxonomia, classicamente falando, é a descrição, nomeação e classificação baseada em características morfológicas e anatômicas, sem necessariamente, caracterizar evolutivamente as espécies em estudo. A sistemática filogenética inclui as filogenias construídas através das classificações.